segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Rio Branco, Linha Curitiba






1977. Um ano marcado pela frieza política da ditadura militar no comando do Brasil. Aliada à força política da época, durante o governo Geisel, acontece a criação do estado do Mato Grosso do Sul, fruto da divisão com Mato Grosso. 77 é o ano da quebra dos tabus no esporte. No futebol, o Corinthians conquista um título depois de 23 anos, ao vencer a Ponte Preta na final do Campeonato Paulista, e o Grêmio, comandado por Telê Santana, quebra a série de oito títulos gaúchos do Inter ao derrotar o colorado na final por 1x0, no famoso gol “cambalhota” de André Catimba. Na pacata Candelária, o futebol já mexia com a cidade e o interior devido à fama do campeonato municipal de futebol. Movidos pela febre que o esporte exercia na época, dois jovens, um residente na Linha Curitiba, e outro na Linha Brasil, resolvem fundar, naquele ano, a equipe do Esporte Clube Rio Branco, da Linha Curitiba.
O pedreiro Juarez Scotta, hoje com 47 anos, e o comerciante Rogério Schwantz, 48 anos, foram os jovens que em 1977 idealizaram o time da Curitiba. Segundo Scotta, ele morava com os pais na Linha Brasil e trabalhava na Curitiba, onde conheceu Schwantz e outros jovens. “O futebol era a grande febre da época. Como nós gostávamos do esporte e o time mais próximo aqui era o Ouro Verde, eu e o Rogério tivemos a idéia de fazer um time na localidade”, conta. O campo da equipe ficava na propriedade de Silfredo Wagner. Sobre o nome do time, Scotta diz que o Rio Branco não tem nenhuma relação com o nome do Clube Rio Branco (existente até hoje) e da escola Rio Branco (atual sede da Igreja Sinodal). “Na época eu escolhi Rio Branco por não existir nenhum outro time na cidade e na região com essa denominação”, garante.

NOVE PÊNALTIS – Scotta recorda que o primeiro compromisso do Rio Branco foi um torneio de futebol na sede do Coqueirinho, na Vila União. Conforme ele, a equipe foi à tarde para a localidade e, ao chegar, se deparou com uma competição que já tinha entre oito e nove times. “O pessoal da região da serra era fanático por futebol e sempre realizava grandes torneios na época.” Schwantz, que era o goleiro do Rio Branco, diz que o campo onde foi disputado o torneio ficava no leito de um açude que tinha sido secado dias antes. Como tinha vários times, a maioria dos jogos foi decidida nos pênaltis. Scotta lembra que naquela tarde, Rogério Schwantz defendeu um total de nove pênaltis, levando o Rio Branco para a final. “O Rogério pegava muito e aquele dia ele estava inspirado”, destaca. Na decisão, a equipe da Linha Curitiba foi derrotada nos pênaltis pelo Flor da Serra. A façanha do Rio Branco no torneio foi muito comemorada pela equipe devido às dificuldades registradas durante a competição.

A zebra do municipal de 77
Pouco tempo depois de ter sido fundada, a equipe da Linha Curitiba acabou entrando pela primeira e única vez no Campeonato Municipal de Futebol. Scotta lembra que aquele campeonato teve um tempero especial com as transmissões esportivas de alguns jogos pela Rádio Princesa através do Padre Alfredo. “O padre era um grande incentivador do esporte e aquelas transmissões ajudavam a motivar ainda mais os times e os torcedores para a disputa do campeonato”, diz. No municipal, a equipe principal do Rio Branco foi formada com Rogério Schwantz, Taquara, Larri, Juarez Scotta e Eloir. Joni, Hilton Schroeder, Cabo Américo e Leri Ávila. Jonas Kaercher (Pelêgo) e Ciro. Jogaram ainda André Spengler, Edinho, Nildo Rodrigues, Volnei Escobar, Enar Saueressig, Vilmar Rohde, Valmor Bortsmann, Toco, entre outros. Arno Bortsmann era o técnico da equipe. O Rio Branco enfrentou times como Botucaraí, Gaúcho, Canarinho (Rebentona), Renascença, Candelária, Ouro Verde, Olarias, entre outros. Rogério lembra dos dois confrontos contra o Olarias, considerado o grande time da época. No primeiro turno, o azulão de Linha do Rio venceu o Rio Branco, que estava desfalcado, com uma goleada por 11x1. “Após aquela goleada, viramos motivo de chacota dos adversários. Os próprios membros do Olarias diziam, em tom de brincadeira, que iriam nos golear dentro da nossa casa, que no primeiro tempo viraria cinco e no final 10x0 para eles”, conta Rogério. No jogo pelo returno, em Linha Curitiba, o público lotou o campo do Rio Branco para ver uma nova goleada do Olarias, mas se surpreendeu ao ver o show do goleiro Rogério Schwantz e do centroavante Ciro, que foi decisivo ao marcar dois gols na vitória do Rio Branco por 2x1. “Aquela vitória valeu mais que um título, pois tiramos a invencibilidade deles no campeonato. Foi a maior zebra da história”, recorda Scotta. No campeonato, o Rio Branco chegou somente até a 2ª fase nas duas categorias e o Olarias foi o campeão ao vencer o Renascença na final, conquistando o bi-campeonato. “Por termos vencido eles, gentilmente o seu Agenor Schunke, presidente do Olarias, nos convidou para fazer a preliminar do jogo de entrega de faixas entre Olarias x juvenis do Grêmio”, lembra Rogério. Após, a equipe seguiu por mais algum tempo disputando amistosos, onde enfrentou times como o Onze Estrelas (Linha Brasil), Olaria (Vila Botucaraí), Botafogo (Travessão Schoenfeldt), 25 de Julho (Picada Roos), entre outros. Em meados de 78, a equipe foi desativada porque Scotta e mais alguns membros da equipe terem se desligado da localidade.
ATUAL – Depois do Rio Branco, a localidade de Linha Curitiba nunca mais teve um time de futebol onze. Nos anos 90, surgiu no futebol sete a equipe do Flamengo e após, a equipe do Curitiba, que sagrou-se campeão municipal em 2004. Atualmente a localidade participa pelo segundo ano seguido do municipal de futsal com a equipe do Curitiba. Ao analisarem o futebol da época, Juarez Scotta e Rogério Schwantz relatam o amor à camisa que existia entre os jogadores. “Naquela época, se dava valor aos jogadores da localidade para participar dos campeonatos. Hoje, os times renegam os pratas da casa e preferem pagar jogadores de fora. Por isso que o nosso futebol está acabando”, avaliou Scotta. Rogério também compartilha a mesma opinião. “Na época do Rio Branco, às vezes íamos a pé para jogar e caminhávamos cinco, 10km por dentro das lavouras para jogar um amistoso. A partir do momento que se teve a infeliz idéia de se pagar jogador, o nosso futebol deixou de ser varzeano para se tornar semi-profissional, onde somente os times com poder financeiro sobreviveram e os pequenos acabaram extintos”, finalizou.

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