terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Botucaraí, da Vila Botucaraí







Cerro Botucaraí. Considerado o morro isolado mais alto do Estado - com 569 metros de altitude em relação ao nível do mar -, é uma das principais referências turísticas do município de Candelária. Sua história é repleta de mitos e lendas. Os tupi-guaranis chamavam-no de ybyty-caray, que, na sua linguagem, queria dizer Monte Santo. No fim da primeira metade do século XIX viveu no local um monge italiano chamado João Maria de Agostini. Ele ganhou fama de curar os enfermos usando a força de sua fé, as virtudes milagrosas da flora existente no Botucaraí e a água cristalina e pura que brota na base do cerro. Marcas profundas foram deixadas na alma da gente simples que habitava a região. Por isso, até hoje, em cada Sexta-Feira Santa uma multidão vai ao morro para pagar suas promessas, sobe até o cume e bebe a água da fonte "santa".
Sob a inspiração das histórias do santo cerro, era fundado no dia 10 de outubro de 1957, na então localidade de Vila Botucaraí, a equipe do Esporte Clube Botucaraí. Conforme o aposentado Oscar Butzke, hoje com 70 anos, ele e os amigos Hilton Ellwanger e Ivo Peixoto implantaram a modalidade na região. Até então, o futebol era desconhecido na localidade. "Eu estudava em Santa Cruz e conheci o futebol. Quando voltei para cá, consegui um material de couro e fiz a primeira bola. Junto com o Hilton e o Ivo, que também conheciam o esporte, convidamos alguns amigos e começamos a jogar", conta. A escolha do nome Botucaraí foi unanimidade entre os membros e uma homenagem à localidade e ao cerro. O primeiro campo da equipe ficava na propriedade de João Butzke. As cores do time eram o vermelho e branco e as camisetas tinham listras, semelhantes a do Grêmio. "Escolhemos o vermelho e branco para dar um destaque ao escudo, que era um desenho do Cerro Botucaraí", diz. Oscar recorda que o primeiro jogo oficial foi realizado em Cerro Branco contra a equipe do Real. A partida amistosa terminou com a vitória dos cerro-branquenses por 7x1. Adão Dias, o Tio Mico, foi o autor do primeiro gol da história do Botucaraí. A primeira equipe foi formada com os jogadores: Oscar Butzke, Ivo Rehbein, Valdemar Joham, Tio Mico, Leo Ellwanger, Oli Teodoro, Chico Lemes, Ere Ellwanger, Ivo Peixoto, Hilton Ellwanger, Acildo Goelzer, Armando Butzke, Loreno Butzke, entre outros. O primeiro presidente eleito do Botucaraí foi Ere Ellwanger, o Ferreiro.
ARQUIBANCADAS - No início dos anos 60, o campo do Botucaraí foi transferido para a propriedade de Reinoldo Seckler. Oscar Butzke conta que no período em que Raimundo Borstmann era o presidente foram construídos os vestiários. Já no seu, foi erguido um pavilhão de madeira com cobertura de telha de barro e um bloco de arquibancadas de madeira para acomodar 110 pessoas. "O Botucaraí foi a primeira equipe do interior a ter uma arquibancada em seu campo", afirma. Na época, o time disputou diversos amistosos e torneios, obtendo mais de 50 taças. "Cada torneio e amistoso era um churrasco, tamanha a integração que existia entre as equipes na época". Os principais adversários eram o Gaúcho (Linha Palmeira), Independência (Bom Retiro), Pinheiro, Minuano, Onze Braz (Linha Palmeira), entre outros. Em 1964, o grupo disputou a sua primeira competição oficial: o campeonato intermunicipal entre as equipes de Candelária e Cerro Branco, denominada Taça da Amizade. O Botucaraí acabou sagrando-se campeão invicto do torneio-início, disputado no campo do Minuano, na Vila Fátima. Pelo certame, obteve o terceiro lugar, tendo em vista que o Minuano foi campeão daquela competição. Em 1965, o Esporte Clube Botucaraí foi registrado oficialmente na federação.

O bicampeonato municipal em 1975
Com a criação do Conselho Municipal de Desporto, o CMD, em 1970, a Prefeitura de Candelária passou a organizar os primeiros campeonatos municipais de futebol. Como equipe pioneira no interior, o Botucaraí também começou a participar dos certames. Valter Auler, mais conhecido por Zanata, foi zagueiro do alvi-rubro neste período. Ele conta que nos primeiros quatro anos, o Botucaraí não teve êxito na disputa. O primeiro título veio apenas em 1974. Naquele ano, a competição era disputada no sistema todos contra todos e dois melhores iam para a final. A decisão foi entre Botucaraí x Olarias. No primeiro jogo, disputado na Vila Botucaraí, vitória do alvi-rubro por 3x1. O último jogo, realizado na Linha do Rio, acabou empatado em 2x2, confirmando o primeiro título municipal para o Botucaraí. Os gols do título foram anotados por Bugrinho e Jorge Schiling. O time campeão em 74 foi formado com Arno Leite, Jair Butzke, Valter Auler, Davi Goelzer e Azevedo Goelzer. Depois Jorge Schiling, Bugrinho, Chico Matana e Cezar da Silva. Luis Ritzel, Romildo Ellwanger (Geada) e Enio Sanmartin. O treinador da equipe era Clécio Braga.

A CONQUISTA DO BI - Em meados de 1975, o Botucaraí perdeu sua praça esportiva e passou a mandar os seus jogos no campo de propriedade de Lauro Rehbein. De acordo com relatos de Romildo Ellwanger e Enio Sanmartin, a equipe confirmou a sua ascensão no cenário esportivo local ao conquistar naquele ano, o bicampeonato municipal. Para a disputa do campeonato de 75, que marcava o cinquentenário de Candelária, Geada e Enio Sanmartin lembram que o Botucaraí e as demais equipes reforçaram os seus planteis com jogadores de outros municípios. O certame foi disputado novamente no sistema todos contra todos em turno e returno e quem somasse o maior número de pontos, conquistava o título. Nos dois últimos jogos, o Botucaraí goleou o Pedras Brancas por 10x1 e empatou na Vila Fátima em 0x0 com o Minuano, sagrando-se bicampeão municipal naquele ano. O time vencedor foi formado com Arno Leite, Luzimar Larger, Valinho, Jair Butzke, Jorge Apoitia, Valter Auler, Azevedo Goelzer, Bugrinho, Beno, Marino, Iá, Lauro Couto, Pingo, Geada e Enio Sanmartin. Em 1976, o Botucaraí disputou novamente a final do municipal com o Olarias, que acabou dando o troco ao conquistar o seu primeiro título na história derrotando o alvi-rubro por 2x0, em partida disputada no estádio Darcy Martin. Nos anos de 77 e 78, o Botucaraí não figurou entre os finalistas da competição.

Com a parada dos campeonatos municipais a partir de 1979, os clubes do interior passaram a disputar apenas jogos amistosos aos finais de semana para manterem-se em atividade. Apenas em 1983 que o certame municipal voltou a ser disputado. Neste ano, a equipe do Esporte Clube Botucaraí, que já havia se consolidado no cenário esportivo local com o bicampeonato conquistado em 74/75, participou do certame. Um dos mentores daquele time, que iniciava uma nova geração na localidade, foi o comerciante Ildonar Goelzer.
Assíduo freqüentador das reuniões da agremiação desde seu início, ele recorda que para aquele campeonato foi montada uma equipe nas duas categorias só com jogadores da localidade. Fizeram parte do grupo principal os jogadores Cleo Wollmann, Artur Haetinger, Mico, Alceu Butzke, Abelardo Butzke, Jair Butzke, André Richardt, José Richardt, Chico Preto, Nilton Machado, Artur Jung, Ildo Butzke, Enio Sanmartin, Mozo, entre outros. Ildonar Goelzer era o treinador. O comerciante lembra que o time tinha uma torcida fanática e que durante a semana se mobilizava para acompanhar os jogos. "O fanatismo era tão grande que vendíamos passagens de ônibus antecipadas para o pessoal acompanhar a equipe. Em um jogo contra o União, no Capão do Valo, fomos com dois ônibus lotados de torcedores", lembra.
Naquele mesmo ano, o alvi-rubro da vila disputou a semifinal contra o Pinheiro (que naquele ano era a base do Minuano) e foi derrotado por 5x1 na Vila Botucaraí. Nos campeonatos de 84 e 85, o alvi-rubro foi eliminado na fase classificatória. Já em 1986, o Botucaraí chegou à semifinal nos titulares e acabou derrotada pelo Olarias.

O tri municipal em 88
Em 1987 o Botucaraí chegou à decisão do municipal nos titulares. O time da "Vila" enfrentou na final a equipe do Minuano, da Vila Fátima. A decisão foi disputada em partida única no estádio Darcy Martin e o Minuano se sagrou bicampeão ao vencer por 1x0, gol de Gilson. No ano seguinte, Botucaraí x Minuano voltaram a decidir o certame. Após dois empates em 0x0 e 1x1, a decisão foi para uma terceira partida.
No jogo, disputado no estádio Darcy Martin, Ildonar Goelzer e Nestor Ellwanger, o Rim, lembram do lance que gerou uma das maiores polêmicas do futebol candelariense. A decisão estava empatada em 1x1, gols de Cláudio Cezar para o Minuano e Airton para o Botucaraí. Aos 30 minutos, a defesa do Minuano recuou uma bola para o goleiro Nestor. Como a grama estava alta, a bola não chegou ao goleiro do Minuano. Rim lembra que pegou a bola, avançou e cruzou para Gilmar Pavin, livre, fazer o gol do título. "Assim que foi marcado o gol, os jogadores do Minuano logo viram que o auxiliar Lauro Oliveira estava com a bandeira levantada e foram reclamar com o árbitro Sílvio Oliveira, que havia validado o lance. Depois de consultar o auxiliar, o árbitro manteve a decisão e confirmou o gol", conta. Com o lance e o início da confusão, a partida foi encerrada. No tumulto, o zagueiro Air, do Minuano, deu um chute na taça de campeão que estava nas mãos do presidente da Liga, Dóris de Moraes, danificando-a. O time do Botucaraí, tricampeão municipal naquele ano foi formado com Chico Preto, Marcos Bartz, Airton, Itamar, Paz, Nei, Macuco, Alex, Nori, Miguel Inácio, Rim, Careca e Gilmar Pavin. O treinador foi Ildonar Goelzer.
Passada a decisão, o clima de rivalidade tomou conta das duas equipes que em 1989 decidiram o municipal pela terceira vez consecutiva. No primeiro jogo, o Minuano venceu por 1x0, gol de Joel. No segundo, novamente no Darcy Martin, o Botucaraí deu o troco e derrotou o Minuano por 1x0, gol de Itamar. Na prorrogação, a equipe da Vila Fátima conquistou o trimunicipal ao derrotar o Botucaraí por 1x0, gol de Cláudio Cezar. Nos campeonatos realizados em 93, 98, 2006 e 2008, a equipe da Vila foi eliminada nas semifinais. Em 93 e 98, a eliminação foi para o Olarias e em 2006 e 2008, o algoz foi o Ouro Verde, da Linha Bernardino. Pelo Intermunicipal, o alvi-rubro participou das edições realizadas em 91 e 94, sendo eliminado na primeira fase nas duas participações.
Ao analisar o futebol de hoje, Ildonar Goelzer salienta que a entrada do dinheiro acabou inflacionando os atletas. "Na nossa época jogávamos por amor ao clube, à localidade. Hoje, se tu não pagar jogador, tu não faz time. Infelizmente essa é a realidade", finaliza.

O título do segundinho em 89
No segundinho, o Botucaraí conquistou seu primeiro título em 1989 ao derrotar na final a equipe do Faixa Verde por 1x0. Em 93 e 98, o time foi eliminado nas semifinais pelo Aliança, do Arroio Grande, e pelo Minuano, da Vila Fátima. Em 2002, a equipe da Vila Botucaraí fez a final com o La Salle, da Vila Marilene. No primeiro jogo, empate em 1x1. No segundo, disputado no estádio Darcy Martin, o La Salle ficou com o título ao vencer por 2x1. No último campeonato, disputado em 2008, a equipe de aspirantes do Botucaraí foi eliminada nas semifinais pelo Gaúcho, da Linha Travessão.

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