

Independência, do Bom Retiro
1958. O ano da consagração de uma geração vencedora. Nesta época, a seleção brasileira comandada por Vicente Feola e que contava com jogadores como Zagallo, Didi, Garrincha, Nilton Santos, Djalma Santos e um jovem de 17 anos, chamado Pelé, encantou o mundo ao conquistar a Copa de 58, derrotando na final a dona da casa, Suécia, em Estocolmo, por 5x2. O ano de 58 também marcou o início da produção do fusca no Brasil, a morte do Papa Pio XII e a eleição de Ângelo Giuseppe Roncalli como o Papa João XXIII e também as criações do bambolê e da Arquidiocese de Aparecida/SP.
No dia 22 de março de 1958 também era fundado o Esporte Clube Independência, na localidade de Bom Retiro, distante aproximadamente 30 km da sede do município. Segundo o aposentado Ernesto Furlan, hoje com 70 anos, ele e o irmão, Marco Osmar Furlan, resolveram fundar o time para incentivar a prática do futebol que não existia na localidade. “Aprendi a jogar futebol quando eu servia no quartel e, ao retornar, decidimos implantar o esporte que não existia aqui e junto com meu irmão, fundamos o time”, conta. Ernesto salienta que o primeiro campo do Independência ficava situado na propriedade de Manoel Luis da Silva, mais conhecido por Neco Mariano. Nos primeiros anos, o time disputava amistosos e torneios pela região, realizando grandes confrontos contra o Gaúcho (Linha Palmeira), Botucaraí, Picada Escura, Minuano, Estrela (Linha Pfeifer), entre outros. “Os torneios tinham uma média de 18 times participantes. Para o almoço, nós matávamos três bovinos gordos, fazíamos uma vala de aproximadamente 12 metros para assar a carne e às vezes, ainda não chegava”, conta. O primeiro time do Independência contou com os seguintes jogadores: Ernesto Furlan, Marco Osmar Furlan, Gustavo Furlan, Moacir da Silva, Hélio dos Santos, João Porto da Silva, Orivaldo Porto e Silva, Enio Dorneles, Alduíno Porto, Rubem Müller, entre outros.
O fundador destaca que para a disputa dos amistosos e torneios, a equipe se dirigia de caminhão até os locais. “O Jorge Cury, de Cachoeira do Sul, puxava arroz durante a semana aqui e fazia o frete para nos levar de caminhão aos domingos, sem se preocupar com a fiscalização da polícia”, diz.
MUNICIPAIS – Ao todo, o Independência possui em sua galeria 72 taças, oriundas de amistosos, torneios e campeonatos. Em 1971, a agremiação do Bom Retiro disputou o 1º Campeonato Municipal de Candelária, organizado pelo CMD. Furlan lembra que o campeonato era em chave única e que os dois melhores faziam a final. Na oportunidade, o Independência disputou a final com o Tabacos, do Passa Sete. No primeiro jogo, disputado no campo situado na localidade de Valdo Porto, no Bom Retiro, as duas equipes empataram em 0x0. Na partida de volta, disputada no Passa Sete, vitória do Tabacos por 1x0, obtendo a taça de 1º vice-campeão municipal, que até hoje está guardada na galeria de Furlan. “Aquele time era bom, jogava por música. Foi uma pena não ter vencido aquele campeonato”, se recorda. O time foi formado com Ivan Machado, Milton Soares, Alemão, João Cláudio Moreira, Sheko, Paulo Ubiraci, Alcemar da Rosa, Evaldo da Rosa, Enio Ribeiro, Joaquim Porto, Diovan Machado, Zeno, entre outros. Enio Dorneles foi o treinador da equipe. O time disputou o municipal até 1976, sendo eliminado nas semifinais em 73 para o São Bento e em 76 para o Olarias. Devido ao aumento das despesas e da distância para disputar os jogos, o Independência passou a não disputar mais o municipal. A partir daí, Furlan destaca que a equipe continuou disputando amistosos e torneios pela região. Em 2003, foi extinto o departameno de futebol, sendo criada a equipe de futebol sete, que disputa jogos amistosos até hoje, no campo situado na propriedade de Ernesto Furlan. “O futebol proporciona momentos de lazer, de integração e de amizade. Ao longo dos anos, fiz muitos amigos através do esporte e espero que os jovens de hoje mantenham este espírito”, finalizou o fundador.
Ivan Machado: 1348 minutos sem sofrer gols
Um dos personagens que defendeu as cores do vermelho e branco do Bom Retiro foi o vigilante aposentado Ivan Machado. Hoje com 59 anos, Machado ainda se recorda da época em que foi o goleiro do Independência na década de 70. O aposentado lembra dos detalhes que fizeram a diferença na histórica decisão de 71 contra o Tabacos no segundo jogo disputado no Passa Sete. “Antes de começar o jogo, o Quincas (Joaquim Porto) e o Sheko começaram a discutir. O Enio Ribeiro também entrou na discussão. Devido ao fato, os três acabaram não jogando a final”. Machado salientou que o time tinha a vantagem do empate por ter tido melhor campanha que o Tabacos. Próximo do final da partida, a equipe acabou sofrendo o gol, que até hoje gera dúvidas se foi legal ou não. “Após a cobrança do escanteio, dois jogadores do Tabacos me tiraram da jogada e o zagueiro deles, livre, fez o gol. Fiquei indignado que o árbitro não marcou a falta no lance”, lembra. Como destaque da equipe, o goleiro alvi-rubro se recorda de Milton Soares, que atualmente reside no Pinheiro. “O Milton era o coringa do time e um maestro com a canhota. Jogava muito”. O goleiro atuou em todas as seis participações do Independência no municipal e lembra das eliminações nas semifinais para o São Bento e para o Olarias. “As equipes da cidade e da região da serra sempre tiveram privilégios, por isso que levavam os títulos. Foi uma pena não termos conseguido vencer um campeonato, que certamente seria um prêmio para a comunidade do Bom Retiro”, diz.
RECORDES – Após atuar pela agremiação do Bom Reiro, Ivan Machado também jogou no Pinheiro, no Minuano e em outros times. O goleiro se recorda de um recorde pessoal que conquistou na época que defendia o Pinheiro. Entre amistosos e partidas oficiais, o goleiro ficou 1348 minutos sem tomar gol, o equivalente a 15 jogos e 15 minutos. “Foi um momento especial na minha vida. Infelizmente o recorde foi quebrado em um amistoso contra o Albardão quando o Geada, um centroavante de Vera Cruz, marcou o gol.” Este amistoso terminou empatado em 1x1. Outro recorde pessoal de Machado foi ter defendido em uma única série de pênaltis, o total de nove cobranças em quinze pênaltis batidos. “Foi em um torneio disputado em Mato Alto, Vera Cruz. Defendi a nona cobrança do goleiro deles e depois encerrei a série, marcando o gol decisivo para vencer aquele torneio.” Na competição, o goleiro também defendia o Pinheiro. Atualmente Machado reside na cidade com a esposa e os dois filhos, Ivan (goleiro do Ouro Preto em 2008) e Charles. Sobre o futebol da época, o ex-goleiro relembra com nostalgia. “Naquela época existia no futebol o sentimento de amor a camisa, de amizade e de companheirismo. Era o verdadeiro futebol-arte”.
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