segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Minuano, Vila Fátima












Vento Minuano ou simplesmente Minuano. Este é o nome dado à corrente de ar que tipicamente acomete os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. É um vento frio, de origem polar, com orientação sudoeste e classificado como cortante. Ocorre após a passagem das frentes frias no outono e inverno. Seu nome deriva dos Minuanos, um grupo indígena que habitava os campos no sul do Rio Grande do Sul. Eram índios de origem patagônica, como os Charruas e os Guenoas, com os quais nunca sobrepunham-se no mesmo território. Em 1730, aliaram-se aos charruas, havendo referências a ambas as denominações para o mesmo grupo.
1963. Um dia típico de inverno na gélida Vila Fátima de outrora. Os amigos Ernani Grehs, Darci Grehs, Elo Lopes de Carvalho, Anês Butzke, Alberi Soares e Loir Cezar se reuniram para um bate-papo casual na pacata localidade. Com o vento minuano soprando forte, ambos tiveram a ideia de formar um time de futebol, visando o entretenimento dos amigos. Surgia neste instante, o time denominado Esporte Clube Minuano. Segundo Elo Lopes de Carvalho, 67 anos, o primeiro campo foi feito em sua propriedade. Elo recorda do trabalho que os fundadores tiveram para adquirir a primeira bola para a equipe. “Como não tínhamos recursos, vendemos para o seu João Hintz vários frascos de vidro vazios de remédio e com o dinheiro, adquirimos a primeira bola”, lembra. Danilo Grehs, o Danilão, foi o primeiro presidente. Os jogos iniciais foram apenas entre os jovens da localidade. Alguns meses depois, a equipe realizou o seu primeiro amistoso na Vila Fátima contra o Independência, do Bom Retiro, sendo derrotado por 5x2. Depois, o campo passou para a propriedade de Hardi Rediske e o time promoveu jogos contra Picada Escura, Gaúcho (Palmeira), Botucaraí, entre outros. Em 1964, o Minuano disputou o seu primeiro campeonato na história. Conforme o agricultor Danilo Cezar, 59 anos, a equipe participou de um campeonato intermunicipal que contou com Real, Estrela, Botucaraí, Picada Escura, Gaúcho (Palmeira) e Minuano. Os jogos eram no sistema todos contra todos e quem somasse o maior número de pontos era campeão. Danilo e Elo lembram que o Minuano fez o maior número de pontos e acabou conquistando o título da competição. O time vencedor foi formado com Darci Grehs, Geraldo Cezar, Cabeleira, Alberi Soares e Elo Carvalho. Alberi Butzker, Anês Butzker e Eri Matana. Policarpio da Silva (Tio Fio), Loir Cezar e Ernani Grehs. No ano seguinte, a equipe da Vila Fátima faturou o bicampeonato na competição. Danilo e Elo também recordam de um torneio vencido em 1968 pelo Minuano no Bom Retiro. “Já estava escuro e a final foi contra um time de Cachoeira do Sul. Colocaram quatro carros para iluminar o campo. A partida estava 0x0 e no fim do jogo atiraram uma bola da lateral para o Romeu da Silva. Ele agarrou com a mão, colocou no chão e rolou para o gol vazio. Como não se enxergava bem de longe, o juiz achou que tinha sido gol e validou. Vencemos por 1x0 e conquistamos aquele torneio”, conta Elo.
Na foto principal que ilustra a matéria, o time campeão intermunicipal em 1964, formado por Alberi Soares, Ernani Grehs, Darci Grehs, Cabeleira, Policarpio da Silva (Tio Fio) e Elo Carvalho; agachados, Eri Matana, Geraldo Cezar, Alberi Butzker, Anês Butzker e Loir Cezar


Nos primeiros municipais, vice em 71
No início da década de 70, o Minuano passou a ter a sua praça de esportes na propriedade de Esmelindro Soares Cezar, o seu Lóka. Na época, o proprietário possuía salão de baile e uma cancha de bolão. Em 71, a equipe da Vila Fátima disputou o seu primeiro campeonato municipal, que naquele ano chegava a 2ª edição.
Depois de enfrentar equipes como Tabacos, Olarias, Independência, São Bento, Botucaraí, entre outros, o time chegou na final, que foi disputada em partida única no dia 31 de dezembro de 1971 contra o Ouro Verde. A equipe de Linha Bernardino acabou conquistando o título ao vencer o Minuano por 3x1, gols de Iá (2) e Silvio Minks para os vencedores. Joaquim Porto fez o gol do Minuano. O time do Minuano, vice-campeão em 71, foi formado com Darci Grehs, Quinha, Pedro Paulo, Gaúcho e Pingo. Mauro Trindade, Alberi Rodrigues e Ernani Grehs. Danilo Cezar, Diovan Machado e Joaquim Porto. Nos outros campeonatos, disputados até 1978, o Minuano não figurou entre os finalistas.

ESTADUAIS – Danilo Cezar recorda que a partir de 1974, o Minuano passou a disputar o Estadual de Amadores. Deste ano em diante, o campo ficava na propriedade de Levino Joaquim da Silveira. Como o local ainda não estava cercado, em 74 e 75 o Minuano disputou o estadual no Estádio Darcy Martin, onde enfrentou Juventude (Candelária), Tereza (Vera Cruz), Avenida (Santa Cruz), Cruzeiro (Venâncio Aires), entre outros. Danilo lembra dos primeiros clássicos com o Juventude pelo estadual, apelidado de Ju-Mi. “Era uma rivalidade muito forte. Quando nos enfrentavamos, lotava o Darcy Martin”, conta Danilo. Em 74, o Juventude venceu os dois confrontos pelo estadual. No ano seguinte, o Minuano venceu o primeiro jogo por 2x1. Após a partida, Danilo comenta que os jogadores desfilaram pela cidade para comemorar o triunfo. Nos dois primeiros anos, o Minuano chegou só até a segunda fase.

A sede que virou ginásio
As reuniões entre os membros do Minuano aconteciam na antiga Ferraria de Ernani Grehs. Eles debatiam assuntos relacionados à equipe. Segundo Alberi Soares, em 1972 Loir Cezar (já falecido) lançou a idéia do time ter sua sede própria, o que foi aceito pelos demais. Levino Joaquim da Silveira, que na época já cedia um espaço para o campo, doou um terreno para a construção da sede. Como a equipe não tinha recursos, Alberi lembra que os membros passaram a vender títulos da já então sociedade Minuano para adquirir fundos. Ico Hoppe foi o pedreiro responsável, Elemar Doebber deu parte dos tijolos e a empresa Horbach, a cobertura metálica. O restante da obra foi parcelada a prazo. A partir daí, a comunidade da Vila Fátima também passou a ajudar e a pequena sede se transformou no Ginásio da Sociedade Esportiva Minuano. Alberi diz que a construção não foi apoiada por nenhum político da época. “Foi uma vitória da comunidade conseguir concluir o ginásio”, explica. A inauguração aconteceu em meados de 1975. Após, o Minuano passou a realizar grandes bailes com bandas famosas como Itamone, João Roberto, entre outras, que eram muito comentadas na época.

CAMPO – Em 1977, o Minuano voltou a participar dos estaduais de futebol amador. Danilo Cezar recorda que a equipe da Vila Fátima não se acertou com a diretoria do Juventude para mandar os jogos novamente ao estádio Darcy Martin. Diante disso, e com autorização do proprietário do campo, Levino Joaquim da Silveira, a Sociedade Minuano cercou o campo com alambrado. Então, o alvi-rubro passou a disputar os jogos no estadual pela primeira vez em sua praça de esportes na Vila Fátima. Danilo lembra que como a equipe possuía as cores vermelho e branco, foi feito um uniforme em azul, vermelho e branco para diferenciá-la do Juventude. A equipe enfrentou novamente times tradicionais na região, mas foi eliminada na 1ª fase.



Com o ginásio concluído e o campo cercado, a Sociedade Esportiva Minuano já era uma realidade no cenário esportivo local. Entre 1985 e 1989, o time voltou a disputar os estaduais de futebol amador. A equipe enfrentou os tradicionais Juventude e Olarias, grupos da região Centro Serra, Agudo, Restinga Seca, Vera Cruz, Rio Pardo, Encruzilhada do Sul, Venâncio Aires, entre outros. O ex-zagueiro Air Menezes recorda dos clássicos contra as equipes locais. “Teve um com o Juventude, onde jogamos debaixo de chuva no Darcy Martin. Durante a partida, o árbitro foi expulsando os nossos jogadores por bater o tiro de meta para fora do campo e nos deixou com apenas seis em campo, vindo a encerrar o jogo pouco antes do final. A partida terminou 0x0, mas o árbitro colocou em súmula o placar de 1x0 em favor do Juventude devido às expulsões”, conta. Nos cinco anos em que participou da competição estadual, o Minuano não passou da primeira fase.

INTERMUNICIPAIS – Entre 91 e 94, foram realizados os campeonatos intermunicipais de futebol entre Candelária e Cerro Branco. O Minuano participou de apenas dois certames, em 91 e 94. No primeiro ano, a equipe da Vila Fátima foi eliminada na primeira fase. Em 94, o alvi-rubro sagrou-se campeão da competição ao derrotar na final a equipe do União, de Cerro Branco, por 1x0, gol de Cláudio Cezar. Com o título, o Minuano quebrou a hegemonia de União e Estrela, que haviam conquistado os três certames anteriores. O time campeão foi formado com Fabiano, Ducho, Nestor, Voldi, Gilmar, Julio, Márcio Soares, Gilnei, Rogério, Alexandre, Batista, Nereu, Evandro, Cláudio, Air, Arno, Farias e Éder.

OS TÍTULOS MUNICIPAIS - Em 1985, o Minuano chegou a sua primeira final de municipal na história. Na decisão, disputada em partida única no estádio Darcy Martin, a equipe da Vila Fátima derrotou o São Jorge por 2x0, gols de Cláudio Cezar. O time campeão foi formado com Batista, Rui Maidana, Danilo, Air (Breta) e Delmar. Ricardo Brixner, Vanderlei Ribeiro e Sebinho. Marco Garcia, Cláudio Cezar e Marquinhos. Em 1987, a equipe da Vila Fátima chegou ao bicampeonato ao derrotar na final, em partida única, o Botucaraí por 1x0, gol de Gilson aos 44 minutos do segundo tempo. O time bicampeão contou com Nestor, Air, Gilmar e Danilo Cezar. Bafu, Ricardo Brixner, Vanderlei, Chubrega e Nei. Gilson e Cláudio Cezar. Em 89 veio o trimunicipal e novamente a final foi entre Minuano e Botucaraí. No primeiro jogo, o Minuano venceu por 1x0, gol de Joel. No segundo, o Botucaraí venceu por 1x0, gol de Itamar. A decisão foi para a prorrogação e Cláudio Cezar marcou o gol do título para o Minuano. O time tricampeão teve Batista, Peri, Gilmar, Air e Márcio (Valderi). Dóia, Marco Garcia e Sandro. Airton, Cláudio Cezar e Joel. Em 93, a agremiação da Vila Fátima disputou o título com o Olarias. No primeiro jogo, na Vila Fátima, vitória do Minuano por 2x0, gols de Rogério e Cláudio Cezar. Na decisão, em Linha do Rio, empate em 1x1, gols de Luizinho para o Minuano e Emerson para o Olarias. Com o resultado, o Minuano conquistou o tetra municipal. O time campeão foi formado com Fabiano, Márcio Frömmig, Fernando, Gilmar e Ducho (Joel). Nereu, Evandro e Sandro. Cláudio Cezar, Luizinho (Diovan) e Rogério (Alexandre). Danilo Cezar e Vanderlei Ribeiro eram os técnicos. Em 88 e 2000, o Minuano perdeu as finais para Botucaraí e Ouro Verde. Nos campeonatos de 84, 86, 91 e 98, o Minuano caiu nas semifinais. Em 99 e 2006, a equipe foi eliminada na 1ª fase e em 83, 2002,2004, 2007 e 2008, a agremiação não participou do certame.

Na foto principal que ilustra a matéria, a formação do Minuano em 1985: Breta, Batista, Danilo Cezar, Rui Maidana, Delmar e Ricardo Brixner. Agachados: Marco Garcia, Sebinho, Marquinhos, Cláudio Cezar e Vanderlei Ribeiro

Segundinho vence em 86 e 98
Já a equipe reserva do Minuano também teve a sua parcela de conquistas. Segundo Gilnei Souza, atual gerente da Loja Kottwitz, em 1986 a equipe conquistou pela primeira vez o título de campeão municipal no segundinho. Naquele campeonato, a equipe da Vila Fátima fez a final em partida única contra o Olarias no estádio Darcy Martin e venceu por 1x0, gol de Sandro Cezar. O time campeão foi formado com Gilnei, Ducho, Gilmar, Laércio e Márcio Soares. Chubrega, Luis Flores e Julio. Sandro, Daniel e Marco Garcia. Em 1998, a agremiação faturou o bicampeonato ao derrotar o Ouro Verde por 3x2 e 3x0. O time campeão teve Sandro, Leandro (Fabiano), Décio, Marcelo e Zezé (Nei). Régis, Luis, Ivan e Éder. Joel, Dudu e Daniel. Técnico: Gilnei Souza.

OUTROS TÍTULOS - O Minuano também foi campeão no futsal ao conquistar a Copa Verão do Clube Rio Branco, em 78, e o primeiro campeonato municipal de futsal, de forma invicta, em 1983. Em 97 e 98, a equipe da Vila Fátima foi bicampeã do campeonato de futebol cinco, disputado na AABB. Em 2008 e 2009, voltou a jogar os municipais de futsal e chegou às finais do campeonato de veteranos, obtendo por duas vezes o vice-campeonato.

A perda do campo
Uma ação judicial movida em 1996 por Levino Joaquim da Silveira obrigou o Minuano a devolver o campo ao lado do ginásio para o proprietário. Em 98, a agremiação passou a jogar em um novo campo na antiga pista de rodeios da Vila Fátima, na propriedade de Heitor da Fontoura Porto. A equipe jogou por dois anos, mas devido a alagamentos, desistiu de atuar no local. Na sua última participação em municipais, em 2006, o Minuano mandou os seus jogos no estádio Darcy Martin. Márcio Soares, atual presidente da equipe, salienta que após a perda do campo ao lado do ginásio, a equipe não se estruturou mais. Para o futuro, o presidente diz que é objetivo do Minuano fazer um novo campo em um terreno já desapropriado ao lado do ginásio e atrás da escola municipal Percílio Joaquim da Silveira. Segundo Soares, o Minuano está aguardando um auxílio da prefeitura, com o maquinário para a realização da terraplanagem do local. Outra promessa é a construção de uma quadra de futsal no ginásio. “Com o novo campo ao lado do ginásio, teremos uma estrutura adequada para voltar a disputar as competições”, diz. Outro objetivo salientado pelo presidente é tentar trazer as famílias da Vila Fátima de volta ao clube. “Para o Minuano continuar, é necessário mostrar para os demais jovens esse amor à camisa que aprendemos com as primeiras gerações”, finaliza.

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