terça-feira, 28 de junho de 2011

A história do futsal de Candelária - parte 2



A história do futsal candelariense - parte 2

O campeonato do Clube Rio Branco já havia virado uma atração para os candelarienses que prestigiavam os jogos todas as terças e sextas à noite, cultivando uma tradição que persiste até os dias atuais. A partir de 1971 surgiu uma nova geração, na qual o futebol de salão deu um salto a ponto de participar pela primeira vez do estadual em 1973 apenas com atletas da Terra do Botucaraí. Quem conta estas histórias são três personagens marcantes na história esportiva candelariense. O agente fiscal Valdemar Enar Schwantz, o Maia, o professor de Educação física Rui Goelzer e o vendedor autônomo Cláudio Grehs, o Maneco.
O campeonato de 71 tinha como favoritos a equipe da AABB, que buscava o tetra na competição, e Os Medonhos, time que no ano anterior chegou à final e contava com jogadores mais experientes. Mas a grande surpresa daquele campeonato acabou sendo a equipe Gaviões. Com uma qualidade técnica surpreendente, a equipe do Rincão Comprido eliminou os Medonhos e chegou à final daquele certame contra o time até então imbatível no município. Segundo Maia aquela final foi especial para ele. “Jamais imaginávamos fazer a final contra a equipe que nos incentivou a jogar futebol de salão”, recorda. O jogo final foi emocionante, no qual a equipe Os Gaviões venceu por 4x3, sagrando-se campeã daquele certame. Iniciava-se, a partir daí, uma nova página no futebol de salão candelariense. “Vencer nossos professores foi algo que ficou marcado para o resto das nossas vidas”, enfatiza Maia. Em 1972, os Gaviões conquistaram o bi-campeonato, vencendo na final os Medonhos. No ano seguinte, os Medonhos deram o troco e, após seis anos de muita luta, conquistaram o seu primeiro título derrotando os Gaviões na final. Em 1974, os Gaviões recuperam a hegemonia no município ao derrotar os Medonhos na final.
DUAS FINAIS NUM DIA - Maia, Rui e Maneco lembram com carinho daqueles jogos. Segundo contam, criou-se uma rivalidade entre nós jamais vista em Candelária. Ressaltam, porém, que era uma rivalidade com respeito de ambas as equipes. Em 1975 o panorama era o seguinte: Gaviões tri-campeão (71/72 e 74) e Medonhos (campeão em 73). Os dois times acabaram novamente se enfrentando na final.. Os Gaviões, em função da melhor pontuação durante a competição, tinham a vantagem do empate no jogo final. Porém, os Medonhos venceram por 4x2 e forçaram a realização de outro jogo. Como não havia uma data disponível para a realização desta partida extra, os representantes das duas equipes, em comum acordo com a organização, decidiram realizar o jogo no mesmo dia. Maneco lembra de um fato que ficou marcado na história desta partida. “Após o acordo feito, fui na casa do Guido Ensslin buscá-lo para disputar a decisão, pois tínhamos apenas cinco jogadores e nenhum reserva disponível. Os demais estavam lesionados. Os familiares do Guido não queriam deixar ele ir pois ele estava com uma gripe muito forte e com 39º graus de febre. Mesmo assim seqüestramos o Guido e o levamos ao clube”. Os jogos eram disputados em dois tempos de 20 minutos corridos, e novamente a vantagem do empate era dos Gaviões pela melhor campanha. Inicia a partida e as equipes, mesmo cansadas de terem realizado uma partida antes, protagonizam um belo espetáculo ao público presente. Muitas chances de gol foram criadas por ambos os lados, mas o primeiro tempo terminou 0x0. Na segunda etapa o panorama permanecia inalterado. Porém, faltando pouco menos de um minuto para o final da partida, Guido Ensslin, o atleta “seqüestrado”, chuta, a bola bate na trave, corre sobre a linha e entra: 1x0 para os Medonhos. Foi o gol do título e os Medonhos sagraram-se bi-campeões.
TAÇA - Como os Gaviões haviam conquistado a taça três vezes acharam que poderiam ficar com ela em definitivo. No entanto, o regulamento do clube estabelecia que a equipe que vencesse o campeonato por três vezes consecutivas ou cinco alternadas poderia ficar em definitivo com a taça. Os Gaviões foram campeões em 71/72 e 74 e, portanto, não foram três conquistas seguidas. Após muitas discussões, os Gaviões aceitaram as ponderações e, já na madrugada, devolveram a taça. “Tive que ir em casa de madrugada buscar a taça para entregar a eles”, lembra Rui Goelzer.
ESTADUAL - Em 1973, o Clube Rio Branco filiou-se à Federação Gaúcha de Futebol de Salão e passou a disputar o campeonato estadual. Maneco lembra bem desta participação, pois os atletas do clube eram todos dos Medonhos. “Representávamos o Clube Rio Branco e Candelária nos mais diversos recantos do Estado”, conta Maneco. O clube jogou em Uruguaiana, Cruz Alta, São Luiz Gonzaga, Santa Cruz do Sul, Lajeado, Canoas, Passo Fundo, Erechim, entre outras cidades. No ano de estréia o time candelariense foi eliminado na primeira fase. “Era muito difícil pois todos trabalhavam e tinham pouco tempo para treinar”, relata Maneco. Em 1974, a equipe convida Maia e Rui Goelzer para fazer parte do elenco. Outra vez, a equipe luta bastante, mas não consegue a classificação. Em 1975, na terceira participação do clube no estadual, outra eliminação na primeira fase. As partidas do estadual em casa eram todas realizadas na quadra de cimento do Clube Rio Branco. Maia lembra de um fato que relata bem a dificuldade que a equipe tinha na época. “Fomos jogar em Passo Fundo, no ginásio de esportes daquele município. A quadra era tão bem cuidada que parecia um espelho. Todos os jogadores da equipe candelariense jogavam de Kichute e os dirigentes da equipe de Passo Fundo não queriam nos deixar jogar com este calçado sob a alegação de que iria estragar a quadra. Resultado: tivemos que cortar as garradeiras do Kichute e disputar a partida. No fim do jogo, a quadra que parecia um espelho ficou toda riscada e o resultado foi um empate em 3x3”.
DESTAQUE – Maia é relacionado por todos da sua geração como o grande jogador da época. Ele destaca com uma dedicatória algumas pessoas que marcaram sua vida esportiva e que, de alguma maneira, o ajudaram a se tornar um dos mais importantes personagens do futebol de salão local.
“Quando garoto, era torcedor da AABB e gostava de ver o time jogar, principalmente Leandro e Paulo Marcan. Mas minha inspiração maior veio do futebol de campo. Lembro da habilidade do Marino, da movimentação do Ia (Luiz Carlos Mença), até do Delmar, mesmo veterano, pela forma de bater na bola e a força do chute. Lembro-me ainda do Tesoura, que era motorista de caminhão da empresa de meu pai (1967/1968), e que me contava suas histórias quando ainda jogava pelo Juventude. Ficávamos na calçada por um longo tempo batendo bola sem deixá-la cair. Os pedestres paravam para nos assistir”, recorda Maia, sem conseguir esconder o ar de nostalgia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário