sexta-feira, 3 de junho de 2011

São João, da Picada Escura






Esporte Clube São João - Picada Escura

1975. Ano marcado por vários fatos históricos. No mundo, depois de 14 anos, encerrava a guerra do Vietnã, com a vitória do regime comunista do norte. Houve também a independência de Moçambique, Cabo Verde, Comores, São Tomé e Príncipe e Papua Nova Guiné. No Brasil, era época de efervescência do regime militar. Em outubro daquele ano, o diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, detido oito dias antes, era assassinado por enforcamento na sede do DOI-CODI, em São Paulo. A versão oficial anunciava a hipótese de suicídio, mas a revelação do crime provocou uma séria crise no governo militar, dando início ao declínio da fase de torturas nos bastidores do regime. No esporte, era o ano do primeiro título brasileiro conquistado pelo Internacional. Na final, disputada no Beira Rio, o colorado de Manga, Falcão, Valdomiro e companhia, venceu o Cruzeiro por 1x0, gol de Figueroa.
Naquele ano, um grupo de jovens amigos da Picada Escura, hoje conhecida como Corredor dos Vargas, em Candelária, se reuniam aos finais de tarde para jogar futebol. O aposentado Divo Reineles de Vargas, hoje com 70 anos, conta que tudo começou num pequeno campo que ele fez na sua propriedade. Era aí que surgia o Esporte Clube São João.
Divo lembra que o nome do time foi uma homenagem ao seu pai, João Vargas. Com a organização da agremiação, o campo foi construído na propriedade de Afonso Grehs. O agricultor Ivo Grehs de Vargas, 58 anos, foi um dos atletas do São João. O ex-meia esquerda revela que o time disputou amistosos com o São Miguel (Santa Fé), Picada Escura, Minuaninho (Sesmaria do Cerro), São José (Picada Escura), Sarrazani (Faxinal dos Porto), Progresso (Alto Passa Sete), Camboim (cidade), Princesa (cidade), Independência (Bom Retiro), Pinheiro, Minuano, entre outros. Uma das primeiras formações do São João contou com Sadi Barros, Ivo Vargas, Enio Correa, Nilvo Vargas, Cláudio Moraes, Sadi Cunha, Lori Guedes, Sergio Cunha, Eloci Guedes, Saul Vargas, Célio Cunha e outros. Divo Vargas foi técnico e presidente do grupo. Os membros do São João recordam dos clássicos feitos com o Picada Escura e o São José. "Sempre foram grandes jogos, pois aqui todos eram amigos", diz Ivo. Já Divo Vargas conta que às vezes ele apitava os clássicos para manter a ordem nas partidas.

INVENCIBILIDADE - Ivo afirma que o São João chegou a ficar quase um ano e dois meses sem ser derrotado em amistosos. O ex-meia conta uma história curiosa sobre o fim desta invencibilidade. "O Divo trabalhava na secadeira do Adão Grehs, o seu Bila, na Vila Fátima. Um dia, comentou sobre a invencibilidade do São João para os membros do Minuano. O Danilo Cezar então marcou um amistoso contra o São João no campo do Minuano", resume. Imaginando que o Minuano iria apenas com os pratas da casa, o São João aceitou a partida. "Fomos para a Vila Fátima e nos deparamos com um time do Minuano completamente diferente. O Danilo montou uma seleção com os melhores jogadores da cidade", completa. A partida amistosa terminou com a vitória do Minuano por 3x0, o que determinando o fim da invencibilidade do grupo da Picada Escura.

Consagração na Linha Palmeira
Ao longo de sua história, o São João jamais participou de campeonatos municipais de futebol onze. De acordo com o fundador, o time conquistou cerca de 30 taças nas disputas de torneios pelo interior. Um, em especial, é lembrado até hoje por Divo e Ivo Vargas. Em meados de 75, o São João jogou um torneio organizado pelo Gaúcho, na Linha Palmeira. A competição contou com 10 equipes. Ao final, São João, Minuano e Independência disputaram o título num triangular.
Depois de empatar com o Independência, o São João decidiu o torneio com o Minuano, que jogava com a vantagem do empate, por ter vencido o time do Bom Retiro. "Eles olharam para nós e acharam que iriam nos ganhar. Então, pouparam os melhores jogadores e vieram com os reservas", fala Divo. Ivo diz que logo no início do jogo, o São João abriu o placar nos primeiros minutos com um gol contra do lateral Paulo Bolacha. "Fizemos o gol e nos retrancamos. Eles nos pressionaram de todas as formas e colocaram os melhores jogadores em campo, mas de forma heróica vencemos o Minuano e conseguimos conquistar aquele torneio", explica. Divo diz ainda que após a vitória os atletas do Minuano chegaram a propor uma revanche, dando cinco gols de diferença para o São João em uma partida normal. Nos anos 90, o São João disputou um campeonato de futebol sete, no qual perdeu na final para o Bragantino, do Faxinal dos Porto, por 1x0. Em 1995, o time encerrou as atividades porque o proprietário do campo precisou usar a área para o cultivo de fumo.

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